Do primeiro encontro com sua imagem por meio do reflexo existente numa poça d’água à possibilidade de sua clonagem, o homem vem se deparando com o espelhamento num processo de reconhecimento do Eu, almejando um estado de consciência de si.
Estar frente à sua própria imagem não é uma característica exclusiva do humano, pois a natureza apresenta condições de espelhamento em muitos de seus elementos constituintes, revelando sua dinâmica sob nossos olhos. Imaginar as possibilidades pelas quais podem ser apreendidos o conhecimento e as identidades a partir de um “outro”, de forma profunda, nos faz percorrer uma espécie de labirinto espelhado, no qual sobre um mesmo objeto pode-se captar diversos ângulos e formas. Contudo, a partir do momento em que a imagem refletida vai além da sua percepção sensível, acaba se constituindo num veículo ideológico, uma idealização que parte de uma imagem refletida numa superfície espelhada até tornar-se um exercício de combate ao próprio estado de espelhamento.
Em nosso cotidiano podemos encontrar situações que despertam nossa atenção e direciona o pensamento para indagações sobre o estado das coisas. Foi dessa maneira que me surgiu o projeto “Situação espelhar”. Ao Pensar no número cada vez maior de informações visuais encontradas nas grandes cidades, acredito que esse excesso de imagens pode provocar uma certa “cegueira” ou surgimento de reflexões que redirecionam nosso comportamento e modo de ver e estar no mundo.
Ao me deparar, por um instante, com um edifício, no mínimo incômodo ao meu olhar, pois não conseguia identificar seus elementos constituintes, ou melhor dizendo, eles se multiplicavam a cada passo que eu dava, pois em sua estrutura havia um revestimento espelhado que fazia com que toda a sua superfície “absorvesse” o entorno. Naquele momento registrei a imagem com uma máquina fotográfica digital compacta, o surgimento da obra “Situação espelhar”. Passei então a fotografar janelas, portas, fachadas e elementos decorativos que contêm em sua estrutura o espelhamento.
Após análise das imagens obtidas de várias situações de espelhamento, optei por experimentar a união da imagem do espelho a uma superfície espelhada, uma espécie de abismo para a imagem fotográfica. O branco da fotografia agora poderia refletir o espaço e sua dinâmica exercida pelo tempo no ambiente em que a imagem se encontrar. Como se fosse possível transformar uma situação fotográfica estática numa aparente dinâmica dada pelas características da reflexão.
Para muitos exemplos, podemos discutir entre outras coisas, as qualidades que a imagem fotografada apresenta. As distorções, valores cromáticos, enquadramentos, geometrização da estrutura arquitetônica frontal e alguns ruídos pertinentes aos ataques que a superfície espelhada sofreu, somam-se às situações de distanciamento, intervenções de luzes internas, ou mesmo a participação direta ou indireta daqueles que habitam o espaço fotografado.
A série “Situação espelhar” corresponde às imagens realizadas a partir de superfícies espelhadas que retornam ao material que lhe deu origem – o espelho. Desta maneira, os limites entre imagem e objeto, real e virtual se encontram numa obra/imagem de caráter difuso, instável.
A imagem fotográfica de um reflexo no espelho adesivada numa superfície espelhada, me faz pensar que em nenhum momento nos encontraremos com a imagem “pura”. Ela estará sempre se contaminando com o agora.
Since his first meeting with his image through the existing reflection in a puddle to the possibility of cloning, man has engaged on the experience of mirroring in a process ofthe self recognition, targeting a state of self-awareness.
Standing before its own image is not a unique feature of human beings. Nature provides mirroring conditions in many of its constituent elements, revealing its dynamics under our eyes. Imagining the possibilities which can be seized by the knowledge and identities from an "other", in a profound way, takes into a mirrored labirynth, in which on the same object different angles and shapes can be catured. However, from the moment the reflected image traspasses the sense of perception, it becomes an ideological vehicle, an idealization that starts from an image reflected in a mirror surface to become an exercise of combating its own state mirroring.
In our daily life we encounter situations that arouse our attention and directs thinking to questions about the state of things. This was how the project "Situation mirror" came to me. Thinking about the increasing number of visual information found in big cities, I believe this excesso of images may cause a certain "blindness" or the appearance of reflections redirecting our behavior and the way we are seeing and being in the world.
As I stood, for a moment, before a building that caused some discomfort to my eyes because I could not identify its constituent elements, or rather, they multiplied every step I took, because in its structure had a mirrored coating that made the surface "absorb" the surroundings. At that time, recording the image with a compact digital camera, was the emergence of the work "situation mirror". So I started shooting windows, doors, facades and decorative elements containing mirroring in its structure.
After the analysis of the images obtained from various mirroring situations, I chose to try the fusion of the mirror image to a mirrored surface, a kind of abyss to the photographic image. The white in the photography could now reflect the space and its dynamics exerted by time in the environment in which the image to found. As if it were possible to transform a static photographic situation in an apparently dynamic given by the characteristics of the reflections.
For many examples, we can discuss, among other things, the qualities presented by the photographed image. Distortions, chromatic values, frame, geometrization the front architectural structure and some noise related to the attacks that the mirror surfasse suffered, all is added to the situations of withdrawal, internal lights interventions, or even the direct or indirect participation of those who abide the photographed space.
The series "Mirrorring Situation" corresponds to the images made from mirrored surfaces that return to the material from which it was born - the mirror. This way, the boundaries between image and object, real and virtual meet are in a work/image with a diffuse, unstable character.
The photographic image of a reflection in the mirror sticked on a mirrored surface, makes me think that at no time we will meet with the "pure" image. It will always be contaminating with the now.